๐Ž๐ฌ ๐„๐œ๐จ๐ฌ ๐๐š ๐‰๐ฎ๐ฏ๐ž๐ง๐ญ๐ฎ๐๐ž: ๐”๐ฆ๐š ๐•๐ข๐๐š ๐๐ž ๐€๐ฆ๐จ๐ซ๐ž๐ฌ, ๐‘๐ž๐›๐ž๐ฅ๐๐ข๐š ๐ž ๐‚๐š๐ง๐œฬง๐จฬƒ๐ž๐ฌ ๐„๐ญ๐ž๐ซ๐ง๐š๐ฌ


Oh, adolescรชncia distante, risonha e encantada! Aqueles anos 60, banhados pela rebeldia doce e pela descoberta de um mundo que pulsava sob meus pรฉs. Ali, entre as notas de uma Rita Pavone e os silรชncias que moravam em minha timidez, conheci os primeiros sussurros de minha alma, que se insinuava ร  vida, aos sentimentos, ร quela vastidรฃo de ser e sentir.

Como era dรณcil o coraรงรฃo, um balรฃo de festa perdido no vento! Descobri minha sexualidade entre versos de canรงรตes e olhares furtivos, e, sem perceber, o tempo jรก corria mais rรกpido que os meus sonhos. Veio a Jovem Guarda, suas rimas doces que embalavam encontros e desencontros, atรฉ que, numa esquina da histรณria, esbarrei com a dura realidade: vivรญamos uma ditadura.

Oh, que desengano! Como um vinho amargo, a verdade se derramou sobre meu peito. Foi na universidade que tomei consciรชncia do inevitรกvel, do curso tortuoso da histรณria. E entre livros e protestos, vivi amores que deixaram marcas, como trilhas sonoras gravadas na memรณria. Cada melodia, uma saudade; cada acorde, um perfume perdido.

Casei-me, entรฃo, โ€œpara sempreโ€, como juram os jovens esperanรงosos. Vinte anos se passaram como um suspiro longo, e dali vieram dois tesouros: meu casal de filhos, promessas vivas de um amor que, embora findo, deixou memรณrias que brilham feito estrelas em noites escuras.

A vida, contudo, รฉ uma danรงa de surpresas. Por escolhas minhas, ou talvez pelo capricho do destino โ€” ah, que brincalhรฃo ele รฉ! โ€” encontrei-me nos abraรงos de outra mulher. E que abraรงos…! Ela, meu porto seguro, meu farol na tempestade, a companheira com quem desejo atravessar o derradeiro oceano.

Hoje, o mesmo disco que girava na vitrola para Rita Pavone ressoa nos momentos mais doces que a maturidade me permitiu colher. A mรบsica nรฃo parou, e que nunca pare! Que cada nota seja embalada pelo vinho rubro que aquece minha alma e dรก asas aos sonhos que, teimosos, ainda brilham neste velho coraรงรฃo.

Amรฉm, digo, com os olhos marejados e o copo erguido. Que esta sinfonia nรฃo tenha fim, e que o รบltimo acorde seja doce como o primeiro. Jamais… Jamais deixarei que a mรบsica se cale!
๐“๐“ต๐“ญ๐“ธ ๐““๐“ฎ๐“ต๐“ต๐“ช ๐“œ๐“ธ๐“ท๐“ฒ๐“ฌ๐“ช

Deixe um comentรกrio