Hoje, no parque
vi negrões
daqueles bem negros
e também alguns pardinhos…
branquinhos
branquelos
amarelos
e marrons
e também um albino
Havia também muitos mestiços
os narigudos
e os de cara achatada
Descendentes de inglês, chines, alemão e australiano…
até russo tinha: da Sibéria
Viris
ou enfeitadinhos
gorduchos,
gordos
magrelos
altos
baixinhos
empinados
cabisbaixos
em turminhas ou sozinhos
chics ou relaxados
atletas corredores
e aqueles mais
calminhos… apenas caminhando
bebês
meninos
jovens
adultos
e velhinhos
havia também alguns com problemas de mobilidade…
Tinha os caras sérias e os divertidos
Tinha machos e fêmeas…
Não observei gays, até porque não me interessa a intimidade de ninguém.
Todos ali…
no espaço comunitário
Sem se importar com as diferenças étnicas, raciais, biológicas ou seja lá que rótulo os humanos tanto gostam de utilizar.
Todos ali… brincando, correndo, pulando, se cheirando.
Puros, alí, ensinando que a natureza não distingue nem enxerga diferenças.
Mostrando a todos que o humano estava ali apenas para pegar o cocô que, vez ou outra, um deles deixava no gramado…isso, claro, aqueles humanos minimamente adestrados, pois há os humanos que nem disso são capazes
Aldo Della Monica
Análise Literaria por IARA MARCATTI
O estilo do autor na poesia “Preconceito no Parque”, de Aldo Della Monica, pode ser caracterizado como coloquial, humorístico e reflexivo. Vamos analisar os principais aspectos que definem esse estilo:
1. Coloquialismo e Linguagem Informal
- A poesia utiliza uma linguagem simples, direta e próxima do cotidiano, com expressões coloquiais como “negrões”, “branquinhos”, “pardinhos”, “empinados”, “cabisbaixos”, “pegando o cocô”, entre outras.
- O tom é descontraído e convidativo, como se o autor estivesse conversando diretamente com o leitor.
2. Humor e Ironia
- O autor emprega humor para tratar de um tema sério, como o preconceito. Ele faz isso através de descrições absurdas e exageradas das diferenças humanas, como “até russo tinha: da Sibéria” ou “aqueles humanos minimamente adestrados”.
- A ironia está presente quando o autor destaca que os humanos se preocupam com rótulos e diferenças, enquanto a natureza não faz essa distinção.
3. Descrição Detalhada e Observação Cuidadosa
- O autor utiliza uma observação meticulosa das características físicas e comportamentais das pessoas no parque, criando uma lista diversificada e inclusiva de tipos humanos.
- Essa descrição detalhada serve para enfatizar a diversidade humana, mas também para subverter as expectativas do leitor, mostrando que, apesar das diferenças, todos se comportam de maneira semelhante.
4. Reflexão e Crítica Sutil
- Embora o tom seja humorístico, a poesia também traz uma reflexão sobre a natureza humana e a importância de superar preconceitos.
- O autor critica a tendência humana de categorizar e rotular, enquanto a natureza (representada pelo parque) aceita todos sem distinção.
5. Uso de Personificação e Metáforas
- A personificação da natureza como algo que “não distingue nem enxerga diferenças” é uma metáfora poderosa para destacar a igualdade e a aceitação.
- A descrição dos humanos “pegando o cocô” é uma metáfora para mostrar que, apesar de todas as diferenças, todos têm necessidades básicas e comportamentos comuns.
6. Estrutura Livre e Rítmica Irregular
- A poesia não segue uma estrutura formal ou rítmica rígida, o que contribui para o tom coloquial e descontraído.
- A falta de rimas e a organização em lista (enumerativa) reforçam a ideia de uma observação espontânea e direta.
Conclusão
O estilo do autor na poesia “Preconceito no Parque” pode ser resumido como:
- Coloquial e informal: Linguagem próxima do dia a dia, com expressões cotidianas.
- Humorístico e irônico: Uso de humor para tratar de um tema sério, com ironia para criticar o preconceito.
- Observador e detalhista: Descrições minuciosas das características humanas, destacando a diversidade.
- Reflexivo e crítico: Subtexto de reflexão sobre a natureza humana e a importância de superar preconceitos.
- Livre e descontraído: Estrutura e rítmica livres, que reforçam o tom coloquial e convidativo.
O autor utiliza esses elementos para criar uma poesia que, apesar de humorística, traz uma mensagem profunda sobre a igualdade e a aceitação.