Essa história de Delação Premiada*
me lembra daquelas confissões que a gente fazia no ouvido do padre, lá na nossa infância da Igreja do Cristo Rei, no Tatuapé em Sampa:
Depois de uma semana acumulando informações sigilosas sobre a gente mesmo, lá íamos em nossas calças curtas de fim de semana, confessar ao padre todos os nossos “crimes”.Como toda boa delação premiada que se preze, tudo acontecia através de treliças no escurinho das igrejas. A salvo de ouvidos alheios e distante da imprensa e da opinião pública.
– Senhor Padre,…peguei dinheiro da carteira da minha mãe escondido pra comprar doce de abóbora na venda do Seu José
…falei três vezes a palavra filhadaputa no jogo de futebol, porque o Francisquinho insistia em me chutar a canela
…dei um tapa no meu irmão porque ele quebrou meu carrinho de rolimã
…esqueci de rezar o pai nosso antes de dormir
…quebrei a roseira da minha vó porque ela não quis me dar mais um pão de queijo
…passei em frente a uma igreja de crentes e olhei lá dentro para ver a cara dos “extra-terrestres”
…ganhei uma revistinha que o Paulinho disse que era catecismo. Puxa,eu não sabia que essa coisa de catecismo era assim ! Adorei !
…brinquei de médico com a Dorinha atrás da moita lá na linha do trem
… ah…a madre mandou confessar que eu “fiz porcaria”, mas era só um jeito de dizer que eu brinquei de médico com a Dorinha
…É só, por hoje é só !
Tudo bem, meu filho… você tem motivos de sobra para ser mandado aos Quintos dos Infernos.
Mas como sua delação é premiada, vá lá perto do altar e reze 3 ave-marias e um pai nosso !…
…Ah, e volte na próxima semana pra contar as novidades: em nome do Pai…do filho….
Aldo Della Monica