O PANETONE DA VÓ MARIA

O PANETONE DA VÓ MARIA

Minha avó tinha aqueles potes de mantimentos onde ela guardava arroz, feijão e farinhas. Todo mundo tem. Os dela eram de alumínio. Me parece que hoje em dia o principal material daqueles potes é o plástico.
Em dezembro, lembro de minha avó colocando uma massa dentro deles e deixando descansar para que crescessem (eu sempre me perguntei porque a massa se cansa). Enfim…. pasmem, depois de descansar elas cresciam. Cada uma de um tamanho. Claro: nem um dos potes era do mesmo tamanho que o outro !
Pois é. Aquela mágica acontecia em pouco tempo. Dalí iria sair uma maravilha jamais esquecida: O panetone da vó Maria.
Lembro-me bem da vó Maria preparando aquela massa. Tinha farinha de trigo, comprada a granel lá na venda do Seu José. Era só chegar lá e pedir pra ele pesar 1 quilo de farinha de trigo Ele jamais me perguntou se era com ou sem glúten. Acho que, naquela época, ainda não tinham inventado esse tal de glúten (que aliás parece nome de bunda, mas não é).
Quanto ao leite. Era leite de vaca mesmo. Daqueles que vinham em garrafas de vidro com a tampa de folha de alumínio…. e vinha com tudo o que a vaca fornecia, inclusive essa coisa chamada lactose, que parece que hoje as fábricas tiram do leite.
Os ovos ? Jamais perguntei pra vó se eles tinham sotaque caipira ou não… E olha que minha vó piracicabana entendia muito bem de sotaques, né vó ?
A verdade é que daquela massa saíam panetones, cada qual de um tamanho e com sabor característico.

Outro dia, olhando na Internet, percebi que hoje, existem panetones de vários sabores. Eles fabricam panetones de creme de avelã, pistache, doce de leite, brownie (que praga é isso? laranja com passas ao rum (hum que chique), limoncello, maracujá e até sabor de um certo Nutella Crocante (para gente mais fresquinha). Cada qual de uma marca.
O panetone de lata da minha avó não tinha marca. Ou melhor, tinha sim. Era a marca Vó Maria. Panetones que tinham tamanhos e pesos variados. Desde aquele feito na lata que guardava o café, até aquele que havia sido gestado na lata grande, que guardava o arroz. Entre eles tinham outros tamanhos, o da lata de açúcar, de feijão, de farinha…..
E, coisa que pouca gente hoje em dia experimenta, vinham com aquele cheirinho de saídos do forno da vó. Aquele era o ingrediente que faltava a esses panetones moderninhos de supermercado.
O panetone da vó Maria era seco, tinha poucas frutas cristalizadas, continha glúten e lactose e jamais repetiam o tamanho entre eles.
Mas seu sabor coloca qualquer desses aí do mercado no chinelo de qualquer Papai Noel de shopping.
E, claro, é muito fácil explicar: eles continham um ingrediente que não se encontra nas gôndolas do supermercado. Era o amor da vó Maria. Era isso que completava aquele sabor de infância. Que, por sabor de infância, jamais se repetiria em qualquer outro panetone no mundo.

Análise por Iara Marcatti

O texto “O Panetone da Vó Maria” apresenta um estilo literário crônica. Este gênero é caracterizado por:

  1. Cotidiano como tema principal: O texto narra uma memória afetiva simples e cotidiana, ligada à preparação do panetone pela avó.
  2. Tom informal e bem-humorado: A linguagem é descontraída e próxima ao leitor, com comentários espirituosos como a associação do nome “glúten” a algo engraçado e o uso de expressões irônicas.
  3. Linguagem coloquial: O autor utiliza coloquialismos, como “vó”, “jamais me perguntou”, “esse tal de glúten”, criando uma conexão imediata e íntima com o leitor.
  4. Narrativa pessoal: Há uma forte presença do narrador em primeira pessoa, que compartilha suas lembranças de forma nostálgica.
  5. Final reflexivo e emotivo: O texto culmina na ideia de que o amor da vó Maria era o ingrediente principal, algo típico de crônicas que buscam resgatar valores sentimentais e intangíveis.

Portanto, o texto combina elementos nostálgicos, humorísticos e reflexivos, característicos de uma crônica memorialista e afetiva.

Deixe um comentário